sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Nelsinho Piquet: talento ou oportunismo?

O início nas pistas do piloto que se envolveu no mais recente episódio de sabotagem na F1

Ao longo dos anos, a Fórmula 1 - categoria de maior prestigio do automobilismo mundial – passa por diversas polêmicas. Na última delas, Nelson Angelo Tamsma Piquet, 24, mais conhecido por Nelsinho Piquet, confessou ter batido o carro intencionalmente para favorecer a corrida de seu então companheiro de equipe, Fernando Alonso.

Segundo Nelsinho, ele provocou o acidente para melhorar sua posição na equipe e conseguir a renovação de contrato para as próximas temporadas. Muitos pilotos da categoria questionaram a atitude de Piquet, inclusive o brasileiro Rubens Barrichello que disse que Nelsinho não deveria mais correr.

Como Nelsinho conseguiu chegar na F1 tão jovem após conseguir resultados impressionantes e ao mesmo tempo ter sua carreira ameaçada na principal categoria do automobilismo? Seria o fim da linha para o jovem piloto?

Aos 8 anos, Nelsinho veio morar em Brasília, trazido pelo pai que queria transformá-lo em um grande piloto. Até então, Nelsinho morou com a mãe Sylvia Tamsma, em Mônaco na França.

O pai Nelson Piquet tinha largado a F1 há pouco tempo, e devido a diversos compromissos, o tricampeão mundial não tinha tempo para acompanhar o filho. Para preparar Nelsinho, o pai contratou pessoas de confiança e trouxe bons treinadores para o filho. Agnaldo Camba é o grande responsável pela trajetória de sucessos de Nelsinho antes da F1. Ele treinou o filho de Nelson do início no kart até a categoria GP2, principal ponte para a elite do automobilismo.

Nelsinho sempre teve tudo do melhor. Desde a categoria “Cadete”, para garotos entre oito e onze anos, o garoto não tinha apenas incentivo, mas a melhor estrutura possível. Ele tinha um kart para cada tipo de pista, seja asfalto molhado, seco, asfaltos pouco ou muito abrasivos, para circuitos com muitas retas ou curvas, tudo escolhido e preparado para ele ser o melhor.

Mesmo com tanto investimento, os primeiros anos de Nelsinho não foram satisfatórios. Do início em 1993 até o primeiro título foram quatro anos, quando ele conquistou o Campeonato Brasiliense e o Brasileiro de 1997. Algumas pessoas que trabalham nos bastidores de onde o piloto começou, dizem que ele não tinha muito talento para correr. “O Nelsinho foi feito piloto e não nascido para ser piloto”, disse Todinho, um dos mecânicos que viram o começo do ex-piloto da Renaut.

No começo do Kart, Nelsinho era descontraído e andava naturalmente entre os boxes de outros pilotos e amigos do início da carreira. Mas depois de um tempo, criou desavenças nas corridas, o que o tornou um piloto mais sério, de poucas palavras e mais comprometido com resultados.

No kart, a diferença entre os carros é muito pequena. Detalhes como o jogo de pneus faz muita diferença. Correr com pneus novos faz o piloto ter melhor rendimento na pista. Para Nelsinho estar na frente, a troca de pneus era mais freqüente que dos adversários. “Muitas vezes eu vi o Agnaldo trocar os pneus do carro do Nelsinho com pouco mais de dez voltas corridas. Para ninguém pegar o jogo pouco usado, ele rasgava na nossa frente”, disse um dos pilotos que corriam com Piquet.

Nelsinho sempre foi cobrado para ser o melhor. Aos poucos foi se tornando um piloto vencedor. Treinava bastante para acertar cada curva e fazer tempos mais baixos. No Kartódromo Ayrton Senna, no Guará (DF), Nelsinho tem até hoje o recorde da pista com 35,20 segundos, conquistado quando estava na categoria “Graduado B”, para pilotos com mais de 14 anos, promovidos da categoria “Novato”.

Depois que Nelsinho entrou na F1, Agnaldo Camba deixou de acompanhar o piloto. No momento ele prepara o filho mais novo de Nelson Piquet, o garoto Pedro Piquet. Diferente de Nelsinho, Pedro conseguiu resultados expressivos desde o começo de sua carreira. Recentemente ele foi promovido para a categoria “Junior Menor”, para garotos entre 11 e 13 anos.

Pedro treina geralmente três vezes por semana entre o Kartódromo do Guará e o Autódromo Nelson Piquet, na Asa Norte, em Brasília. Vigiado de perto por Agnaldo, o garoto demonstra talento e se prepara forte para seguir os passos do pai.

Passado a crise, Nelsinho sabe que seu nome está marcado e será sempre associado ao escândalo. O ex-piloto da Renaut quer começar do zero para limpar o erro que cometeu e voltar um dia a correr de fórmula 1, para tentar realizar o sonho de ser campeão mundial.

Acervo

O tricampeão mundial de F1, e precursor dos filhos, Nelson Piquet, é empresário em diversos ramos de atuação e acompanha de perto as carreiras de Nelsinho e Pedro Piquet. No autódromo de Brasília - que leva o nome dele - Nelson Piquet tem um grande espaço onde guarda diversos karts desde a época em que Nelsinho corria, até os primeiros passos de Pedro. A criação de um museu com preciosidades da família Piquet no automobilismo, não está descartada pelo patriarca.

Autódromo Internacional Nelson Piquet – Brasília DF



Largada – 1993 – Nelsinho começa sua carreira no Kart com 8 anos.

Curva 1 – 1997 – Depois de um início sem alarde, o piloto consegue seus primeiros títulos: Campeão Brasiliense e Brasileiro de Kart.

Curva 2 – 1998 – Nelsinho vence o Campeonato Brasiliense, mas deixa escapar o Brasileiro de Kart

Curva 3 – 1999 – Na principal categoria estadual do Brasil, Nelsinho vence o Campeonato Paulista, além do Brasiliense e da segunda conquista do Brasileiro.

Curva 4 – 2000 – Na última temporada no Kart, Nelsinho vence o Brasileiro pela terceira vez.

Curva 5 – 2001 – Estréia na F3 Sul-Americana na sexta corrida, após completar 16 anos

Curva 6 – 2002 – Na temporada seguinte, conquista o título vencendo 13 das 18 corridas, além de fazer 16 poles.

Curva 7 – 2003 - Após o sucesso na América do Sul, Nelsinho vai disputar a Fórmula 3 Inglesa. Com a própria equipe “Piquet Sports”, o brasileiro ganha reconhecimento internacional e é chamado para fazer teste na equipe “Willians” de Fórmula 1.

Curva 8 – 2004 – No ano seguinte, Nelsinho conquista o título da F3 inglesa e se torna o piloto mais novo a vencer na categoria.

Curva 9 – 2005 – Nelsinho estréia na recém criada GP2, idealizada para ser a principal categoria de acesso a F1.

Curva 10 – 2006 – Na segunda temporada na GP2, Nelsinho conquista o vice-campeonato, atrás apenas do britânico Lewis Hamilton

Curva 11 – 2007 – Nelsinho é contratado para ser piloto de testes da Renaut.

Curva 12 – 2008 – Ao lado do bi-campeão mundial Fernando Alonso, Nelsinho se torna titular da Renaut.

Chegada – 2009 – Nelsinho é afastado da Renaut e confessa escândalo envolvendo equipe.